quinta-feira, 22 de maio de 2008

013. CONCERTO EM SONIM (VALPAÇOS) - por Lino Dias

Banda Filarmónica de São de Areias fez sucesso em Sonim (Valpaços)

Uma longa viagem levou, ontem (domingo), a banda da Sociedade Filarmónica Fraternidade de São João de Areias até Sonim, airosa e bonita povoação, única de freguesia com 317 habitantes, localizada 13 quilómetros a norte de Valpaços, concelho a que pertence, no distrito de Vila Real, região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Com disposição geográfica repartida em vale (parte primitiva) e encosta serrana, Sonim recebeu a banda e acompanhantes na sua parte altaneira, autêntico miradouro natural de terras que povos germanos, da época sueva e visigótica, por ali ocuparam. À primeira vista, mirando do alto a pacatez das ruas da parte antiga, tudo deu a crer que é na parte alta e contemporânea que pulsa o coração da actividade da freguesia.
É ali que se encontra o bonito santuário de Nosso Senhor do Bonfim, cujos festejos anuais, no último domingo de Julho, são ponto de encontro para milhares de romeiros da região. Nessa altura a festa é rija, como sucedeu no ano passado com a participação do popularíssimo Roberto Leal, assim como de bandas filarmónicas de nomeada, uma delas a da cidade de Espinho, e de creditados ranchos folclóricos. Dois coretos dizem ao visitante que as gentes de Sonim são apreciadoras das filarmónicas, pondo em dias de festa duas a actuar lado a lado.
É também ali que funciona a sede da Junta de Freguesia e a Casa do Povo. A escola primária, recentemente desactivada pela insuficiência de alunos, é outra referência de que na parte alta de Sonim se localiza a zona nobre da povoação. Ora, foi precisamente para ali que os dois autocarros saídos de São João de Areias se dirigiram. Um, cedido pela Câmara Municipal de Santa Comba Dão, fez transporte dos músicos, dirigentes e alguns familiares. O outro, expressamente fretado a uma empresa de camionagem, transportou os acompanhantes que se inscreveram para passeio promovido pela direcção da Filarmónica, entre os quais viajavam os presidentes da Junta de Freguesia e da Assembleia de Freguesia de São João de Areias.
À chegada, muitos populares aguardavam os visitantes, numa forma hospitaleira e simpática de bem receber, o que se evidenciou ser apanágio daquelas gentes, multiplicando-se em atenções e desejo de que todos se sentissem verdadeiramente acarinhados e compensados de tão extensa deslocação. O presidente da Junta de Freguesia, Fernando Pessoa, também presidente da direcção da Banda Filarmónica de Sonim, deixava espelhar bem a satisfação que lhe ia na alma, da qual comungavam igualmente todos os seus colaboradores, incluindo as simpáticas senhoras que confeccionaram o almoço, servido na escola primária aos músicos e restantes utilizadores do mesmo autocarro. A propósito, cabe referir que aos acompanhantes do outro autocarro lhes foi reservado almoço num restaurante dos arredores de Valpaços.
O concerto, iniciado às 16 horas, teve lugar no espaçoso salão da Casa do Povo, com atraso de meia hora, à espera do autocarro que tinha ficado em Valpaços. Antes do primeiro tema, tanto Fernando Pessoa, dirigente anfitrião, como Vítor Borges, presidente da direcção da Filarmónica de S. João de Areias, fizeram uso das habituais palavras de circunstância, procedendo de imediato também à troca de lembranças.
Dado início ao concerto, tanto os músicos como os acompanhantes logo se aperceberam de como a execução estava a ganhar apreço. Entre as gentes da terra trocavam-se olhares, sinais de admiração, expressões de êxtase, como que se interiorizassem fundo o virtuosismo dos acordes e da sua harmonia. “Assim, sim… vê-se que é uma banda!... Que espectáculo!“, comentava um. “Tomara a gente assim tocar!“, desabafava-se entre jovens músicos da banda de Sonim. “Têm muitos jovens, mas não têm canalha!“, afirmou um idoso.
Terminado o último tema do concerto, o maestro Pedro Carvalho agradeceu a forma hospitaleira com que a banda foi recebida e o carinho que ali lhe foi manifestado, deixando promessa de que na visita a São João de Areias tudo será feito para a Banda de Sonim encontrar igual satisfação. Enquanto isso, um idoso ia repetindo “Só mais um!...“, depois acompanhado por mais alguns conterrâneos. O maestro satisfez-lhes a vontade e, como em todos os números executados, os aplausos voltaram a ouvir-se, igualmente calorosos.
Se o Concerto de Reis, na Igreja Matriz de São João de Areias, e o concerto em Castelo Branco, do ciclo «Bandas em Concerto» do Ministério da Cultura, tinham sido momentos altos da banda este ano, juntou-se-lhes agora mais este, ainda que a quantidade de público fosse um pouco menor e em circunstância bem diferente, por simples cortesia de conhecimentos pessoais com Fernando Pessoa, um homem orgulhoso do desenvolvimento que tem pugnado para a sua terra e pela qualidade de vida proporcionada aos seus conterrâneos.
Sobre a visita da banda e acompanhantes, disse o mesmo ao «Farol da Nossa Terra»: “Além de ter sido uma visita cordial, foi também entusiasmante para as nossas ambições como freguesia. Somos transmontanos e sempre gostámos de receber bem, apesar do primeiro-ministro José Sócrates não nos querer pôr no mapa. Tira os investimentos em Trás-os-Montes para beneficiar Lisboa com o novo aeroporto, o TGV e outras coisas. Vamos resistir, não vamos morrer, e são pessoas como vocês, das terras das Beiras, que muito nos orgulha recebermos. Agradeço à Banda o magnífico concerto, tem muita qualidade. As pessoas gostaram muito. Nunca as vi assim tão entusiasmadas a ouvirem uma banda!».

Lino Dias

Retirado do blogue Farol da Nossa Terra, do dia 10 de Março de 2008.

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